Luís Pedro Nunes - 2 mai. 22:57
Seremos cobaias de Putin nas europeias
Seremos cobaias de Putin nas europeias
A máquina de manipulação russa vai testar novos truques para eleger eurodeputados. O grande prémio são os EUA
Há poucos dias, Donald Trump apareceu num vídeo a vender a sua versão da Bíblia para pagar as contas judiciais que se amontoam. Depois de umas sapatilhas douradas bregas de 400 dólares, avançou sem pingo de vergonha na cara para a “Bíblia Deus Abençoe os EUA”, que inclui a “The Bill of Rights” (a Declaração dos Direitos, de 1689), a “Declaração da Independência” e o “Juramento de Lealdade” à bandeira. Não é um detalhe. É a confirmação de que o trumpismo, e, por consequência, o Partido Republicano, se apresenta como uma misturada entre fé e nacionalismo. Até Trump ser candidato, não se lhe conheciam grandes fervores religiosos. Pelo contrário. Agora, alega que a “América tem de voltar a rezar”. E acusa, falsamente, os democratas de perseguirem cristãos — algo que na convenção republicana foi reforçado com a ideia de que os oponentes andam a destruir cruzes cristãs. Há toda uma discussão entre evangélicos para tentar encontrar um argumentário que venda a ideia de que Trump é o escolhido por Deus. Na Rússia, Putin não precisa de apóstolos. Em abril, o próprio se comparou a Jesus, e citou a Bíblia para explicar a missão divina de defender o país do “Ocidente satânico”. Sob Putin, o ateísmo foi substituído por um “Cristianismo Ortodoxo musculado com mensagens aprovadas pelo Estado”. O Cristianismo Protestante, que supostamente Trump defende, e o Ortodoxo de Putin não são o mesmo. O inimigo comum de que ambos parecem partilhar é o que chamam de “valores decadentes”, uma miscelânea que confunde deliberadamente direitos dos homossexuais com pedofilia ou usa histórias esparsas de “radicalismos woke” em contextos muito específicos e escolhidas a dedo para demonstrar que a “civilização criada pelo homem branco está sob ataque”. Um manual dos protoditadores. Já sob um tema que nos é querido, a Europa, até têm posições que se complementam. Em fevereiro, Trump declarou que a Rússia podia “fazer o diabo que quisesse” com ela. Putin quere-a. A Europa.
Já é Subscritor? Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler