expresso.ptAscenso Simões - 2 mai. 07:00

Descolonização — e se ouvíssemos o Presidente?

Descolonização — e se ouvíssemos o Presidente?

A questão das relações com as antigas colónias é difícil. E é mais difícil em Portugal porque a nossa sociedade é profundamente racista

Marcelo Rebelo de Sousa é um dos políticos mais hábeis e mais conhecedores do país real que o nosso país tem na atualidade. Nada do que faz é linear, pouco do que diz é em vão. Estou à vontade para o afirmar, nunca o apoiei, nunca votei nele.

. Ora, como numa família, a construção de um caminho único não se faz sem se ter em conta o facto de ter havido erros e de esses erros carecerem de uma retratação.

Marcelo fala em “indemnizações”. E fala bem, porém tarde.

Em Inglaterra esse processo começou há muitas décadas com a criação da Commonwealth, em França esse processo acelerou com a presidência de Macron, olhando para o interesse profundo na afirmação de uma língua e especialmente de uma influência geopolítica. E não se pode dizer que estas nações não sejam elitistas e senhoras de si…

Na Bélgica, o processo (des)colonial tem décadas. Dizem que é porque há um problema de remorsos, uma vez que o Congo não foi uma colónia, sim uma propriedade. Mas a verdade é que os belgas estão a saber estar perante a realidade dos tempos de hoje. O mesmo acontece com os holandeses, aqueles que têm presentemente um Rei que eliminou todos os sinais de colonialismo que ainda existiam na pompa da monarquia dos Países Baixos.

Mesmo o Canadá, que foi e em certa medida ainda é, uma colónia, já indemnizou os povos nativos que ali se encontravam quando chegaram os europeus.

Perante isto, Portugal assume-se como o eterno Velho do Restelo, aquele que anda sempre atrás, a muita distância, de todos os outros, aquele que impede o país de ser mais digno.

As reações às afirmações de Marcelo decorrem da falta de cultura e da opção pelo nacionalismo e pelo tribalismo que está em medrança por esse mundo fora. Esse crescimento decorre do facto de termos desistido de uma visão universalista, de uma integração de povos e nações com as suas realidades e especificidades. Mas esse processo de descerebralização em curso não devia atacar os grandes partidos democráticos e liberais.

Ora, é exatamente aqui que está o problema – perante um pequeno passo levanta-se o ruído e recua-se. A democracia tem medo da demagogia e do populismo e o que aí virá não será coisa boa de ver.

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