sol.sapo.ptJoana Andrade - 2 mai. 17:31

As reparações. ódio, ignorância e hipocrisia

As reparações. ódio, ignorância e hipocrisia

A África tem uma população principalmente jovem e deve chegar a 2,5 bilhões em 2050. A maioria terá fugido ou terá o sonho de fugir para o Ocidente, a terra dos seus colonizadores e esclavagistas.

• Um exemplo, entre centenas, a guerra do Mali dura desde 2012, morreram já milhares e milhares de pessoas principalmente idosos, mulheres e crianças. Nos últimos 3 anos foram entregues ao Mali pela U.E. 250 milhões de euros que se evaporaram e 600 milhões à União Africana entre 2022-2024. A mesma U.E. e a O.M.S. e a O.N.U. têm canalizado nas últimas décadas biliões de euros para apoiar África, mas a pobreza e a fome intensificam-se. Não será este um problema mais premente que os “crimes” do século XVII ou XVIII, ou XIX?

A maioria dos países africanos actuais caracterizam-se por uma corrupção endémica, há até fortes indícios de desvio dessas verbas de apoio Ocidental e do enriquecimento das oligarquias no poder à custa de populações cada vez mais miseráveis. Quem fecha os olhos, como a ONU e não só, não será cúmplice? O problema de África é o colonialismo Ocidental do passado ou um certo tipo de elites políticas e a hipocrisia do Ocidente? Essa hipocrisia dos ditos democratas e progressistas ocidentais tem gerado vagas massivas de imigrantes, pessoas que fogem em condições miseráveis, e sujeitas a esquemas desumanos do tráfico e a um duro destino que os espera no Ocidente. Se essas pessoas tivessem condições condignas nas suas terras, não prefeririam viver nas suas casas e nos seus países?

Como explicarão os activistas anti-racistas a fuga das pessoas do inferno, desculpem, paraíso, dos seus países, para o inferno, desculpem, paraíso, do colono e racista ocidental?

O ocidente prefere negociar com tiranos e enriquecer a insurgir-se com medidas concretas contra a exploração das pessoas e as suas condições de vida. Alguém vê a esquerda e os média ocidentais insurgirem-se contra essa podridão moral e política?

• O relatório de 2022 da Freedom House diz-nos que metade da população africana vive em países não livres. A maioria das ditaduras mais brutais tem proveniência esquerdista e transformaram-se em cleptocracias, onde tem predominado ao longo de décadas as guerras civis e com vizinhos, os morticínios étnicos e religiosos e a crescente desigualdade social e económica e o desprezo por qualquer princípio democrático. Resolver esse quadro monstruoso não devia ser a prioridade de quem alega preocupações humanitárias?

• Portugal teve colónias, sim, mas não dominaram os mouros durante mais de sete séculos a Península Ibérica? E os romanos não dominaram a Ibéria? E Portugal não foi invadido por franceses? Que esquemas de reparações infinitas deveriam concretizar-se seguindo a lógica do delírio progressista?

            A ministra da igualdade racial, (que ministério), do Brasil, por exemplo, quer uma qualquer reparação devido à escravatura, conhecerá ela um pouco a história? Saberá que o Brasil é independente desde 1822 e que aboliu a escravatura depois de Portugal em 1888? Que esse Brasil independente é responsável por quase dois milhões de escravos?

• Temos a ideia que África será o maior devedor líquido mundial ao resto do mundo. O colonialismo subtraiu as riquezas de África e o continente tem de se endividar. O que se investiu e subtraiu com o colonialismo dariam contas curiosas… Retirou o ocidente mais bens e dinheiro de África que as elites africanas no século XX e XXI?

Vamos a factos, no final de 2008 a dívida africana Subsariana era de 177 mil milhões de dólares. A riqueza que as suas elites transferiram para ‘offshores’ entre 1970 e 2008, foi de 994 mil milhões de dólares, cinco vezes a dívida externa… África afinal não é um devedor, mas um credor líquido do resto do mundo. Por que existem ‘offshores’? Quem as controla? Qual o papel de países como os EUA e Inglaterra na existência das ‘offshores’ e até dos magníficos mercados livres dos grandes democratas?

A riqueza e as receitas fiscais dos países em desenvolvimento no caso de África têm destino dúbio com o beneplácito da banca e do sector financeiro ocidental, especialmente das ‘offshores’. Nunca a ONU e outros aceitaram órgãos imparciais de fiscalização da proveniência de verbas colossais de certas figuras africanas, considerando até a pobreza das populações desses países.

• As facções de esquerda e os liberais progressistas têm no tema do racismo uma das suas coutadas e fonte de angariação de verbas junto dos governos Ocidentais. Quanto mais racismo detectam mais será legitima a sua existência, se desaparecem as notícias sobre racismo, rapidamente nos explicam que este está a ser silenciado e que necessitam de mais verbas. Sim, há racismo e de todas as cores, mas é no Ocidente onde há menos racismo. A xenofobia e o racismo em África e na Ásia excedem em muito o que acontece no Ocidente.

• O que foi no século XX mais devastador para o Brasil, Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique, a presença portuguesa até aos anos 70 ou que se passou depois com a descolonização? Pensemos na influência do totalitarismo comunista, nos números de mortes, e nos casos de miséria e pobreza? Um exemplo, em 2023, sabemos que na Guiné-Bissau cerca de 70% da população vive no limiar da pobreza, com maior incidência nas zonas rurais. Já algum esquerdista pediu a cubanos, russos, chineses, americanos e franceses alguma reparação sobre a exploração?

O direito à autodeterminação e independência dos povos é fundamental e irrecusável, mas os maus processos de descolonização não deviam ser também revistos e julgados, considerando as consequências?

Actualmente várias organizações fiáveis como a OIM e a Walk Free Fundation (dados da Global Slavery Index) referem pelo menos a existência de 50 milhões de escravos e milhões de casamentos forçados e de menores em todo o mundo, uma parte significativa deles em África.

Porque têm países como Portugal e Brasil relações normais com países que têm escravos? Estamos no século XXI, falamos de escravos que estão vivos e não do século XVII ou XVIII.

• Existem várias organizações e associações, bolsas e programas de universidades e mesmo cursos que dependem de verbas do Estado para que se celebre a língua portuguesa pelo mundo. Ora, essa não é a língua do colonizador e do opressor? Então deviam acabar as verbas em tudo o que se relacionasse com a língua e as antigas colónias, especialmente na literatura e nas ideias pós-colonialistas? Seria esse um modo de começarmos a apagar as marcas do colonizador ou a língua portuguesa só é boa quando implica dinheiro para os activismos e os estudos de cariz pós-colonial?

É insultuoso e até criminoso julgar o passado pelas lentes do presente e uma prova de ignorância e/ou má-fé, lançar o opróbrio sobre século e séculos e sobre pessoas concretas e modos de vida de gente que migrou para outras terras, por lá ficou, em interacção com os locais e construíram as suas culturas conforme as dinâmicas de cada século. Sem portugueses existiria o brasileiro? Sem os europeus existiram os norte-americanos, sem os deportados anglo-saxónicos existiria a Austrália? Provavelmente, sim, mas que ideia sobre o ser humano e a história é esta, em que cada cultura ficaria preservada de modo puro na sua geografia sem qualquer contaminação e apenas seriam permitidas relações idealizadas à luz de conceitos do século XXI? Vamos reconduzir cada um à sua geografia original? A ideia de uma pureza original é uma fantasia absurda. Não há paraíso africano e asiático antes da invasão do homem branco.

Imagine-se que realizaríamos o experimento grotesco das reparações e dos pedidos de desculpas unilaterais e falaciosas com o código jurídico e cultural do presente para sentenciar e decidir sobre reparações acerca os factos do passado. Exigimos também a devolução ou reparação dos bens, infra-estruturas e património material e imaterial (como, por exemplo, a língua) que ficou nessas geografias?

Ser defensor de uma sociedade decente e da dignidade humana significa também ser intransigente com aqueles que querem impor os seus delírios usando a cor, a orientação sexual e o sexo para impor divisões, conflito e ódio. A luta contra este tipo de terrorismo intelectual liberal progressista e esquerdista é cada vez mais uma guerra pela defesa da nossa sanidade mental e pela liberdade, mas também por um mundo mais justo, principalmente para com os vivos e aqueles que vão nascer.

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