sol.sapo.ptFabio Sousa - 4 mai. 17:00

Governo de gestão danosa

Governo de gestão danosa

Em vez de se enredar em polémicas evitáveis, o PR devia ter cuidado de impedir o Governo que deixou em gestão prolongada de dar cabo em três meses da única coisa de que podia orgulhar-se: as contas certas. O bodo eleitoralista vai sair caro.

Nos três primeiros meses do ano, o Governo de António Costa que Marcelo Rebelo de Sousa deixou em gestão prolongada após a demissão a 7 de novembro cometeu a proeza de fazer passar as contas públicas de um superávit de 1,177 mil milhões de euros para um défice de 259 milhões. Foi este o preço não só do eleitoralismo do PS_na tentativa de tentar conservar o poder nas mãos da esquerda – e de uma nova ‘geringonça’, agora sob a batuta de Pedro Nuno Santos – mas também de uma política de ‘terra queimada’ ou de ‘esvaziamento do saco’ mal houve a certeza da derrota na urnas e da vitória da AD com a direita a conquistar uma clara maioria parlamentar.

De facto, é inconcebível que um Governo de gestão possa ter aprovado mais de uma centena de resoluções (Miranda Sarmento veio ontem dizer que foram contabilizadas 108) com implicações orçamentais, muitas delas sem qualquer cabimentação no Orçamento do Estado para 2024, ora correspondendo a promessas feitas em plena campanha eleitoral, ora por compromissos assumidos inclusivamente já depois de conhecidos os resultados das eleições de 10 de março que apearam o PS do poder.

Por mais explicações que Fernando Medina possa querer tentar ainda apresentar, não se tratou de abrir os cordões à bolsa, mas, sim, de um autêntico bodo eleitoralista e de um subsequente e criminoso desbaratar de dinheiros públicos.

E enquanto o faziam, mesmo em vésperas da ida às urnas, Costa e Medina reclamavam em simultâneo o ‘milagre’ de uma «redução histórica» da dívida pública – que, afinal, estava mascarada com o recurso ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, ou seja, com dinheiro dos pensionistas, atuais e futuros.

Tudo visto e somado, o que tivemos nos últimos meses foi um Governo de gestão danosa, que colocou os interesses do partido no poder muito à frente dos do país e não teve pejo em esbanjar o que podia para deixar descalço quem veio a seguir.

Aliás, em matéria de interesses o PS não brinca mesmo em serviço, como pode também ver-se pelo exemplo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Com a demissão da provedora que foi ministra do PS e demais membros da Mesa da Santa Casa nomeados pelo Governo socialista, logo saíram a terreiro os caciquistas encartados clamando contra o que classificam como «saneamentos políticos» e acusando PSD e CDS de «assalto» à administração pública e ao aparelho do Estado.

Misturar o pedido de demissão de Fernando Araújo da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (que era totalmente previsível, uma vez que a nova ministra tinha apresentado a sua própria demissão de presidente do conselho de administração do Hospital de Santa Maria por discordar da restruturação que estava a ser implementada pela equipa do agora ex-CEO do SNS) com as exonerações na Santa Casa não faz qualquer sentido.

A não ser na tentativa de sustentar a ‘narrativa’ (como eles usam dizer) desses aparelhistas que pretendem conservar a todo o custo os lugares conquistados à custa do cartão.

A situação na Santa Casa da Misericórdia é gravíssima e ainda não se sabe da missa a metade.

E não é só fruto da suicida aposta na internacionalização, e nomeadamente no ruinoso investimento de dezenas de milhões de euros no jogo do Brasil com parceiros que se revelaram nada recomendáveis.

 Pelos vistos, no último ano, a Santa Casa não só não conseguiu inverter a tendência de agravamento do seu buraco financeiro como viu a  situação agravar-se.

Sendo que a perda de receitas nos jogos sociais – como o Nascer do SOL noticiou na semana passada – torna o horizonte da SCML ainda mais negro. 

Neste cenário crítico, bem conhecido dos atuais governantes mas também dos seus antecessores, são totalmente descabidas as leituras segundo as quais o que está a acontecer na Santa Casa é um saneamento político ou um assalto aos cargos do aparelho do Estado.
Nem a Santa Casa é uma fundação do PS, nem estas provedora e administração reuniam amplo consenso sequer entre os socialistas.

Basta, aliás, atentar nas declarações à SIC do anterior provedor, também nomeado pelo Governo de António Costa, Edmundo Martinho – em frontal contradição com a sua sucessora e com a anterior ministra da tutela, Ana Mendes Godinho.

Mas, independentemente de a quem possa assistir razão (ao anterior ou à agora ex-provedora da Santa Casa), é espantoso que a queixa tenha origem no PS, partido que ao longo das últimas décadas tomou conta de todo o aparelho do Estado, de alto a baixo e de norte a sul do país, das CCDR’s às empresas públicas ou com capitais públicos, das representações do Estado em organismos internacionais às dependências mais locais.

No plano dos princípios, os cargos técnicos do Estado deviam estar preenchidos por agentes qualificados escolhidos pelo seu saber e mérito e não pela sua cor ou alinhamento político, familiar ou clientelar.

Só que, nesta matéria, no PS nunca se olharam aos meios para atingir os fins.

O aparelho do Estado, de facto, parece, mas não é uma coutada socialista. Daí que, desta vez, seja o PS a ter de convencer-se que o melhor, mesmo, é começar a habituar-se. 

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