Fabio Sousa - 4 mai. 18:00
Presidente Marcelo, por qué no te callas?
Presidente Marcelo, por qué no te callas?
Marcelo, sem os heterónimos, perde facilmente a cabeça.
Não me recordo de tamanha unanimidade no ataque a uma pessoa, mas temos de reconhecer que o Presidente da República se pôs a jeito e merece todas as críticas. Desde logo, a de que no encontro com os jornalistas estrangeiros renegou o pai e o filho na mesma ocasião. Para começar, temos de reconhecer que é obra. Depois as ‘bocas’ descabeladas ao ex-primeiro-ministro que roçaram o racismo. Imaginemos que as palavras que Marcelo Rebelo proferiu tinham saído da boca de André Ventura. O que se diria?
Já nem falo das críticas a Luís Montenegro, pois tenho uma grande estima pelo mundo rural, mas o Presidente, percebeu-se, deve ter bebido um daqueles suplementos vitamínicos que costuma ingerir, fora de prazo. Se tivesse fama de beber álcool, ninguém duvidaria que tinha bebido demais, mas como Marcelo gosta tanto de álcool como eu gosto de leite, só há mesma essa hip��tese de ter ingerido um suplemento estragado. Quanto à história do pagamento às ex-colónias por causa da escravatura e da colonização, Marcelo deve ter batido com a cabeça na parede antes de avançar com destrambelhada ideia. Sendo um pequeno rei nos países de língua oficial portuguesa – Marcelo costuma ser recebido por multidões em euforia –, o Presidente deve ter sofrido do mesmo complexo africano que o seu antigo padrinho. Marcello Caetano quando visitou Moçambique em 1973 acreditou que o regime estava bem vivo e não fazia qualquer sentido começar a pensar nas independências. Marcelo, afilhado, ao pensar nas suas visitas a África, chegou à conclusão de que é preciso reescrever a história, mesmo contra a vontade dos próprios. Ou será que o Presidente da República portuguesa não sabe os convénios que existem entre Portugal e os PALOP em questões como a Saúde ou apoio militar?
Por acaso Marcelo saberá onde andam todas as corvetas portuguesas, bem como os aviões da Força Aérea? Veja o que se passa em Cabo_Verde, Guiné-Bissau ou São Tomé e Príncipe. Na Saúde, olhe para todos os países de língua portuguesa e veja como estamos a ajudar esses povos irmãos. Conclusão, só me lembro de uma frase de outro que foi rei em tempos e que se pode aplicar perfeitamente: ‘Presidente, por qué no te callas?’. l
P. S. 1. Que o mundo está um pouco perdido, não temos muitas dúvidas. O que dizer de uma notícia que li no Globo, onde se dá conta que há companhias aéreas a fazer voos de luxo para cães, onde não faltam guloseimas e toalhas quentes, entre outros mimos? Vejamos o que diz o jornal brasileiro: «A Bark Air é a mais nova empresa especializada em viagens de cachorros, oferecendo muito espaço e conforto para os animais cruzarem os céus em jatos particulares. Nos primeiros meses de operação, as rotas servirão a área metropolitana de Nova York através do Aeroporto do Condado de Westchester com voos para a área de Los Angeles e Londres». Como alguém diz, e bem, estamos condenados a ser absorvidos por outras culturas, pois a nossa não está boa da cabeça.
P. S. 2 Já me tinham chamado a atenção, mas só esta semana vi o documentário Os Olhos da Revolução, na RTP3. Apenas me ocorre fazer uma vénia aos autores de tão magnífico trabalho, Jacinto Godinho e Carlos Oliveira, com edição de Sara Cravina e produção de Gonçalo Silva. As declarações inéditas de Otelo, salvo erro a 26 de abril, a defender o colonialismo ou Spínola a dizer que era apenas um chefe militar, ficaram-me na memória. Penso que este documentário devia passar obrigatoriamente em todas as escolas.