visao.ptsvicente - 12 set. 19:22

Visão | Já ia de férias outra vez

Visão | Já ia de férias outra vez

Ao contrário e praticamente nos antípodas, no Afeganistão, abandonado à sua (má sorte) e à ensandecida política repressiva da supremacia masculina, as mulheres deixaram de ter voz

O regresso de férias, para o qual adotamos o estrangeirismo de rentrée, é sempre um ato mais ou menos doloroso, consoante os indivíduos e as suas circunstâncias.

Não chegando ao cúmulo do estado de espirito do nosso rei D. Carlos que, quando regressava a Portugal, quase sempre vindo da Inglaterra que amava, dizia aos que o rodeavam que regressava “de novo a esta choldra”, voltar às rotinas, às mesmas caras, aos mesmos eternos e recorrentes problemas, às mesmas passa-culpas, aos mesmo protagonistas, é um exercício de profunda violência.

Enquanto o país esteve a banhos, eu incluída, continuou a cegada da aprovação ou não dum orçamento que, quer-me parecer, ainda nem o Governo conhece, num profundo desrespeito pelo superior desígnio nacional, colocando os interesses partidários em primeiro lugar.

Tédio e desalento!

As duas guerras continuam num crescendo de desrespeito pelo direito internacional e suas instituições, com corridas cada vez mais selváticas a armas mais potentes, mais mortes, mais sofrimento, num total desprezo pelas vidas humanas ceifadas e pelas gerações vindouras comprometidas.

Cansaço e desespero.

A rota de imigração mais mediática deslocou-se do Mar Mediterrâneo para o Canal da Mancha, mas as vidas continuam a ficar emersas e findas, nas águas de fronteira sem uma solução real à vista. Continuamos a falar de migração regular mas das palavras aos atos vai o tamanho dum mar de cadáveres.

Vergonha, desalento e profunda tristeza.

As mulheres portuguesas aos poucos vão desistindo de ter os poucos filhos que um sistema económico miserável de há décadas, aliado a um desnorte no apoio dado pelo sistema de saúde público, teima em não resolver ficando-se pelo esgrimir inglório de argumentos infantis em que “quem começou foi aquele menino” e não há quem dê um murro na mesa e lhe ponha cobro.

Raiva e frustração.

As instituições do Estado estão a saque. Ele foi o assalto ao MAI no melhor estilo Arsène Lupin. Ele foi a fuga de cinco presos perigosos duma cadeia de alta (!) segurança.

Por saber fica a forma como um só individuo sai com oito computadores debaixo do braço (deviam ser pequenininhos!) e para quê.

Se não tinham informação relevante, porque carga de água é que o assalto não foi à Worten? Não é preciso ser-se muito fã da FoxCrime para intuir que foi um trabalho encomendado e feito com profissionalismo.

Como profissional foi a fuga de Vale de Judeus quase lembrando o filme os fugitivos de Alcatraz. Isto é gente que vê muitas películas!!!

Agora culpados num e noutro caso é que nem se vislumbram. Consequências políticas ou de comando está quieto! No final, vai ser o guarda prisional que tem que olhar para minúsculas telas de segurança ao mesmo tempo e não viu os meliantes em pleno campo aberto a saltarem o muro e o segurança da portaria da Secretaria Geral do MAI que foi fazer um xixizinho mesmo no momento X.

Ou melhor ainda: os verdadeiros culpados serão os andaimes e as escadas que possivelmente estarão proibidas de serem utilizados em lugares públicos.

Riso amargo e vergonha alheia.

Lá por fora a hora é do som e do silêncio das mulheres.

Os Estados Unidos da América arriscam-se a ter na Sala Oval a primeira mulher, que, além de não ser caucasiana (nem ter cor de cenoura como o outro candidato), tem o riso fácil de quem é empático, bem resolvido e olha com esperança o amanhã.

A gargalhada não é sinónimo de irracionalidade, como alguns querem fazer crer. É, sim, o som da felicidade, da harmonia que se pretende estender a toda a humanidade.

Se Trump tirasse o penso da orelha, talvez conseguisse ouvir a limpidez do som. O riso, quando puro, é a música da cascata dos sentimentos humanos. É esse o seu valor!

. Completamente!

O seu mutismo é a maior vergonha, a maior derrota de toda a política de igualdade de direitos protagonizada pelo Ocidente. O mesmo Ocidente que permitiu e continua a permitir que uma tal situação aconteça em pleno século XXI. Uma situação que remete as mulheres para a condição de animais fustigados, amordaçados, explorados por homens que esquecem que provêm, todos eles, duma mulher.

No Afeganistão, nos últimos meses, o número de suicídios de mulheres reportados triplicou. Como cisnes, o seu último som é o canto de quem escolhe a única liberdade que lhe é permitida.

Medo, Fúria, Raiva mas… Esperança.

A esperança que nasce em cada renovação. E não é para isso que servem as férias?

Bem-vindos, pois, a este velho quotidiano.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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