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Inovações no tratamento contra a enxaqueca
Inovações no tratamento contra a enxaqueca
Neste Dia Europeu da Ação Contra a Enxaqueca podemos celebrar os avanços científicos que estão a fazer a diferença na vida dos doentes.
A enxaqueca é uma das doenças neurológicas mais debilitantes, afetando milhões de pessoas no mundo. Quem sofre de enxaqueca ou convive com pessoas com esta doença, conhece bem o impacto que pode ter no dia a dia, limitando atividades sociais, profissionais e até momentos de lazer. Recentemente, com o desenvolvimento de tratamentos realmente inovadores, que têm vindo a revolucionar a abordagem à enxaqueca, principalmente no que diz respeito à prevenção das crises, há uma nova esperança para os doentes. Entre essas inovações destacam-se os chamados gepants e os anticorpos monoclonais.
Os gepants são uma nova classe de medicamentos desenvolvida especificamente para a enxaqueca e têm-se revelado uma verdadeira mudança de paradigma no tratamento desta doença. Estas moléculas previnem a ativação das vias que desencadeiam as dores, sendo eficazes tanto no tratamento agudo como na prevenção das crises, sendo os primeiros a ter este efeito duplo. Ao contrário de muitos tratamentos anteriores, apresentam uma grande vantagem: têm um perfil de efeitos secundários bastante favorável. Muitos doentes que não toleravam os tratamentos preventivos tradicionais encontram assim uma alternativa tolerável e eficaz.
Outra grande inovação no tratamento da enxaqueca é o uso de anticorpos monoclonais, administrados por via subcutânea ou endovenosa com uma frequência mensal ou trimestral. Esta classe de fármacos foi desenhada especificamente para prevenir as crises de enxaqueca e a sua eficácia tem sido demonstrada em diversos ensaios clínicos, oferecendo uma abordagem preventiva de longa duração. Em Portugal, neste momento, são particularmente indicados para pessoas com enxaqueca em mais de quatro dias por mês e que tenham experimentado várias terapias preventivas sem sucesso. Para muitos destes doentes, que antes se sentiam sem esperança e presos a uma vida limitada pela dor quase diária, têm sido a chave para uma melhoria substancial.
Um exemplo da eficácia destes tratamentos, é o caso de um doente de 45 anos, que sofria de enxaqueca crónica há mais de 15 anos. Já tinha experimentado praticamente todos os tratamentos preventivos disponíveis, sem sucesso. Chegou ao ponto de ter crises de enxaqueca quase diariamente e já não conseguia imaginar uma vida sem dor. Quando lhe foi proposto o uso de anticorpos monoclonais, estava cético e apreensivo, mas, sem alternativas, decidiu avançar. Hoje, descreve a experiência da seguinte forma: “A enxaqueca não está curada, mas já deixei de pensar se posso ou não ir a determinado local, se posso ou não aceitar determinado trabalho, por causa da enxaqueca. Mudou a minha vida.”
Este relato é apenas um dos muitos que ilustram o impacto transformador que os anticorpos monoclonais podem ter. Em ensaios clínicos, estes medicamentos mostraram reduzir a frequência de crises em cerca de 50% a 70% dos doentes, o que representa um avanço significativo no controlo desta condição incapacitante. Existe um pequeno, mas não desprezível grupo de doentes que apresentam respostas excelentes reduzindo em mais de 75% a frequência da sua enxaqueca.
Os estudos que suportam a eficácia dos gepants e dos anticorpos monoclonais são robustos e têm sido acolhidos com entusiasmo pela comunidade médica. Além disso, estes fármacos já foram introduzidos noutros países há alguns anos, o que permite comprovar na prática a eficácia e a segurança. A tolerabilidade destes tratamentos é um dos fatores mais destacados. Ao contrário de terapias mais antigas, que frequentemente provocavam efeitos secundários incapacitantes que levavam à serem interrompidos, os novos tratamentos têm sido geralmente bem aceites pelos doentes, permitindo-lhes uma melhor adesão e, consequentemente, uma maior eficácia no controlo da enxaqueca.
O tratamento da enxaqueca deu, nos últimos anos, passos largos em direção a um futuro mais promissor para quem sofre desta doença. Os doentes têm agora mais opções, específicas da sua doença, mais seguras e eficazes, que lhes permitem recuperar o controlo sobre as suas vidas.
A enxaqueca pode não estar curada, mas, como dizem muitos dos doentes tratados com estas novas terapias, “já não domina a minha vida, sou eu que a controlo”. Este Dia Europeu da Ação Contra a Enxaqueca é, por isso, uma oportunidade para celebrar os avanços científicos que estão a fazer a diferença na vida dos doentes com enxaqueca e para continuar a trabalhar por um futuro em que a dor deixe de ser uma barreira para milhões de pessoas.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990