Inês Vieira e Felipa Xara-Brasil - 13 set. 17:41
O futuro (próximo) das competências de sustentabilidade nas organizações: descentralização é a aposta
O futuro (próximo) das competências de sustentabilidade nas organizações: descentralização é a aposta
O verdadeiro sucesso reside na colaboração entre todas as equipas da organização. E essa colaboração só será eficaz se cada equipa tiver as competências certas.
Nos últimos anos, as práticas de ESG (Environmental, Social e Governance) tornaram se fundamentais nas estratégias empresariais globais, com um foco claro na criação de valor a longo prazo, e Portugal tem seguido esta tendência. Com isso, as equipas responsáveis por gerir estes temas também têm vindo a adaptar-se. Fruto da complexidade das ações e dos requisitos em torno da sustentabilidade, muitas empresas começaram a centralizar estas funções em Direções, Comités ou Gabinetes de Sustentabilidade. Esta centralização inicial visava gerir a crescente transversalidade das práticas ESG e assegurar a existência de uma equipa central capaz de agregar o valor destas estratégias.
Contudo, a questão persiste: será que estas equipas, por si só, conseguem executar toda a estratégia? Com os crescentes e cada vez mais exigentes requisitos regulamentares, têm as competências necessárias para dar resposta a estas exigências? A resposta é clara: não. Apesar de serem multidisciplinares, com profissionais especializados em diversas dimensões ESG, o verdadeiro sucesso reside na colaboração entre todas as equipas da organização. E essa colaboração só será eficaz se cada equipa tiver as competências certas.
A descentralização das competências de sustentabilidade está, portanto, a emergir como um passo essencial. Se olharmos, por exemplo, para o setor financeiro, o Banco Central Europeu (BCE) exige que as instituições distribuam competências ESG por toda a sua estrutura, desde os Órgãos de Governo até às equipas operacionais, garantindo recursos adequados em cada linha de defesa. De destacar ainda a prática da BlackRock, que adota uma política de voto contra a reeleição de membros do conselho que não demonstram progressos suficientes na integração de critérios ESG nas suas empresas.
Este movimento de descentralização não se limita ao setor financeiro. Empresas como a Microsoft e a Unilever também estão a integrar metas de sustentabilidade na compensação dos seus executivos e a promover programas de formação que asseguram que todos os colaboradores compreendem e aplicam práticas ESG eficazes. Assim, quer os bancos como outras empresas já estão a criar figuras de Champions ou Embaixadores de Sustentabilidade em cada departamento, responsáveis por garantir que as suas áreas possuem as competências ESG necessárias, desde, por exemplo, o desenvolvimento de negócios “green” até à gestão de riscos e conformidade.
Com a urgência crescente da adoção de práticas sustentáveis, temos assistido a um aumento exponencial da procura por profissionais com competências de sustentabilidade e ao crescimento de programas de formação executiva dedicados a estes temas. Segundo o Future of Jobs Report 2023 do Fórum Económico Mundial, a transição verde poderá criar até 30 milhões de empregos “green” até 2030, com um aumento de 33% na procura por especialistas de sustentabilidade até 2027.
Num mundo que transita de TUNA (Turbulence, Uncertainty, Novelty, Ambiguity) para BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible), as práticas de Governance para a sustentabilidade devem ser não apenas robustas, mas também adaptáveis e inovadoras. Para que as empresas portuguesas se alinhem com as metas globais de ESG até 2030, é essencial adotar uma abordagem estratégica que promova a resiliência, inovação e adaptação contínua, o que só será possível com a disseminação e descentralização das competências de sustentabilidade por toda a organização. Assim, a Governance não será apenas uma componente do ESG, mas uma das fundações sobre a qual o sucesso sustentável será construído, permitindo que as empresas prosperem num ambiente cada vez mais complexo e imprevisível.